quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Olimpíadas no Rio: Se maquiar, estraga

Torço do fundo do coração para a capital carioca ser sede da Olimpíadas de 2.016. Talvez assim o governo pare de neglicenciar essa beleza natural e olhe mais para a pobreza que circula como uma zumbi nas ruas e morros da capital fluminense. O morro Dona Marta já demonstra sinais de recuperação. Um sobradinho rosa lá em cima do morro chama a atenção de quem anda por Botafogo. Dizem que é porque a polícia ocupou o local e porque levaram alguns projetos sociais para lá. Agora, até o aluguel subiu de preço. Esses são os comentários do povo que transita entre o asfalto e as ruas da comunidade.

Mesmo com as reformas nos corredores internos, a Rodoviária Grande Rio está longe de fazer jus às verdes matas que cobrem a Cidade Maravilhosa. Talvez os turistas das Olimpíadas não andem de ônibus, por isso a rodoviária deve dar para o gasto. Isso é pensar pequeno. Quem chega por lá encontra um Rio largado, que vive sob viadutos encardidos, entristecidos pelo tempo, pelo relaxo da gestão pública. Será que o Comitê Olímpico Internacional (COI) passou por lá? É triste de ver, principalmente para quem carrega a cidade no coração. Embora seja paulista, e amo a minha cidade, adoro as formações curvilíneas das montanhas, o sol radiante, a praia às seis da tarde, o calçadão de Copacabana, onde a regra é ser diferente.

Na praia, dois amigos discutem a efetividade de se jogar uma granada no tornozelo de alguém, se matou ou não matou fulando. Papo de assustar. Papo de praia de quem vive a vida por um fio. Papo de quem não viu o sol brilhar da janela mostrando um caminho possível, porque a dureza da infância deve ter tirado o sol de lá. Papo de quem foi esquecido pelo poder público, talvez até pela família, de quem não tinha lá muita opção de ser doutor. Ah, esse Brasil brasileiro, sempre com dois passos para frente e um para trás. Assim, não chega lá.

Na hora de ir embora, tristeza de deixar o sol para trás. Terror em ver que o avião quase cai no mar para manobrar e voar. Fica a uns 30 metros das pequeninas ondas de quebra mar. Precisam aumentar o Santos Dummont, senão nem o 14 Bis vai poder pousar. Talvez devam recriá-lo em outro lugar. Mas daí perderá a paisagem da Baia de Guanabara abrindo os braços para o mundo.

Tem muita coisa para melhorar. Mas maquiagem não adianta. Sai depois da festa. Acaba depois da alegria. Só o samba não morre.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Manhã Transfigurada não vale uma tarde

Em mais um dos meus périplos quartaferianos para assistir a um filme que caiba no meu horário tive uma daquelas decepções descomunais. Sem ter paciência de esperar pelo Anticristo, cuja próxima sessão estava uma hora adiante, preferi experimentar "Manhã Transfigurada". Quase chorei. Dessa vez, de tristeza.

Nada salva o filme, nem roteiro, nem fotografia, muito menos a atuação. O filme conta a história de uma ex-donzela, Camila, que apaixonada por um padre, se entrega a ele, quando a donzelice ainda era requisito para casar. Tudo acontece no final do século XIX, na cidade gaúcha de Santa Maria.

A moça, interpretada por Manuela do Monte, que atualmente faz uma ponta na novela global Paraíso, é obrigada a casar com um estancieiro para que a família não vá a bancarrota. Inconformada com o comportamento bronco de capitão Miguel, na noite de núpcias ela conta ao marido que não é mais virgem. A história só está começando. Segundo as "leis" da justiça católica, ela deve ficar trancada em casa, impossibilitada de sair. O marido pede a anulação do casamento e enquanto o resultado não sai, vai cuidar da estância.

Sozinha em casa, Camila forma um triângulo amoroso com o sacritão e o padre, os únicos que podem visitá-la. O resto é romantismo ingênuo, daqueles românticos de morrer, que me fizeram lembrar Camilo Castelo Branco. Provavelmente as histórias de Bianca e Sabrina, livretos ultraromânticos comprados em uma ou outra banca de jornal, sejam melhor opção.

O diretor , Sérgio Assis Brasil, é documentarista. "Manhã Transfigurada", que começou a rodar em 2002, seria sua estréia. No entanto, o diretor faleceu em dezembro de 2007. Nem conseguiu ver o seu filme nas telonas, pois ele só foi lançado em 2008.