quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tempos de Paz é a catarse teatral nas telas do cinema


“Se você me fizer chorar em 10 minutos, você fica no Brasil”. Essa é a condição que o ex-torturador e agente de imigração Segismundo, intepretado por Toni Ramos, dá ao recém-chegado polonês Clausewitz, Dan Stulbach, para que ele fique no país. O encontro vai muito além da aprovação de um passaporte. Clausewitz chega falando um português fluente e com o passaporte declarando-se agricultor, mas sem um único calo nas mãos. Confundido com um espião nazista, o polonês é levado ao agente de imigração e encontra Segismundo atormentado com a idéia de ser perseguido por seus torturados, já que naquele dia foram libertados os presos políticos acusados de comunismo pelo governo Getúlio Vargas, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Cansado de ouvir histórias da guerra e com um coração de pedra, Segismundo pede que Clausewitz lhe emocione. Desiludido com a profissão de ator, que tinha antes da guerra, Clausewitz tenta encontrar as palavras exatas para explicar o que sofreu. Enquanto isso, Segismundo abre seu coração e conta o que fez de pior com os presos políticos durante a guerra.

É justamente nesse momento que o teatro entra em cena. Em um diálogo intenso e emocionante, Dan Stulbach e Tony Ramos dão uma aula de interpretação, transpondo para as telas o melhor da tragédia grega, a catarse teatral. Para retratar a guerra, não foi preciso trazer as cenas típicas de corpos magérrimos, com marcas de sangue e dor, mas a dor da tragédia é expressa em palavras, em gestos, em diálogos. Do outro lado do Atlântico, o filme mostra que o Brasil , que estava livre dos bombardeios, não podia dizer o mesmo da tortura no período getulista. Envolvente até o final, Tempos de Paz sai do senso comum dos filmes de guerra e mostra a humanização de um ex-torurador, que sempre cumprindo ordens, esqueceu de sonhar. Os dois atores fizeram somente transpor o sucesso da peça de teatro "Novas Diretrizes em Tempos de Paz", de Bosco Brasil.

As minhas lágrimas penderam naturalmente, efeitos da emoção de ver um filme brasileiro com tão poucos recursos visuais e com tanta densidade interpretativa, sob a batuta de Daniel Filho. Vale a pena assistir.