quinta-feira, 25 de junho de 2009

Budapeste é Mesmo Amarela

Sofisticado, o filme Budapeste, dirigido por Walter Carvalho, capta a essência do livro de Chico Buarque, que lhe deu o nome. A disputa entre a fama e o anonimato se revela no atormentado José Costa (Leonardo Medeiros), um ghost writer (escritor fantasma), que divide-se entre Rio e Budapeste, entre a esposa e a amante, entre o português e o húngaro.

No Brasil, Costa não passa de um colecionador de sucessos anônimos. Ele dá fama a um turista alemão que lhe pagou para escrever um livro autobiográfico, mas esconde sua profissão até mesmo da esposa Vanda (Giovanna Antonelli), uma apresentadora de telejornal. Ela questiona incessantemente de nunca ter visto uma obra com o nome do marido. O apagamento da autoria incomoda Costa.

Convidado para um congresso internacional de ghost writers, ele ruma a Budapeste e se apaixona pela educadora de doentes mentais, Kriska (Gabrilla Hámori). “O húngaro não se aprende nos livros” diz a moça ao encontra-lo pela primeira vez em uma livraria, enquanto ele repetia frases de um livro didático. O desafio do autor-fantasma é aprender a nova língua e depois escrever. Seu mergulho é tão intenso que passa a atuar como ghost writer também em Budapeste. Mesmo do outro lado do Atlântico, o dilema de não ser reconhecido pelo que escreve e assistir o sucesso de seus livros da platéia o revolta. Durante outro congresso de ghost writers, reclama a autoria de um livro de poesias, mas volta ao Brasil as pressas por causa do passaporte vencido. Depois de um tempo vendo que até o seu sócio tinha virado um autor de sucesso, recebe um telefonema o convidando a retornar à Hungria: tudo por causa de seu livro, Budapeste.

Dialogando internamente, José Costa narra trechos da história, fazendo o filme caminhar nos mesmos passos lentos do livro. A câmera se desloca lentamente, procura ângulos dignos de cinema francês.

Carvalho apresenta a Budapeste amarela de Buarque com muita sensibilidade, usando e abusando da paisagem da cidade repousando ao longo do Danúbio. No mesmo rio em que o autor coloca a estátua de Lênin, partida em quatro grandes pedaços, deitada em uma balsa. O comunismo navega rio abaixo. O antigo regime vira de ponta cabeça ao passar pela ponte. A passagem não está no livro, mas se encaixa com perfeição no enredo. A fotografia é intensa. Não podia ser diferente. Essa é a primeira vez que Carvalho atua em vôo solo como diretor. Antes, tinha co-dirigido Cazuza, o tempo não pára, ao lado de Sandra Werneck, mas tem uma carreira longa como diretor de fotografia, que inclui filmes como Notícias de uma guerra particular, de João Moreira Sales, e Carandiru, de Hector Babenco. Chico Buarque também dá o ar da graça. Aparece no aeroporto de Budapeste com um sorriso amarelo só para pedir um autografo à José Costa.... ou melhor Kosta Josze... A inversão do nome é a inversão do personagem que passa de ghost no Brasil para autor na Hungria.


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